sexta-feira, 4 de março de 2011

A REDE SOCIAL


Até agora os dois melhores filmes entre os indicados ao Oscar desse ano  que assisti ,foram Black Swan e Toy Story 3,um pouco abaixo A Rede Social(The Social Network).Este foi dirigido por David Fincher,que é um dos melhores diretores do mundo e pode-se dizer,faz parte de uma elite.Fincher que já exibiu seus traços estilísticos com mais intensidade  em O Clube da Luta  e Seven(para mim continua sendo o melhor do diretor),nesse foi sóbrio,preciso,quase matemático.
Cinema é evidentemente subjetivo,mas existem algumas “objetividades” e embora  incomodado  com a frieza  de A Rede social,não posso dizer que Fincher errou a mão,essa frieza é intencional e consciente , ele a usa para se retratar uma geração,muito embora ao contrário que Fincher talvez pense,existem valores ou melhor vícios ali retratados que são universais.E essa geração é a geração de Mark Zuckerberg,criador do Facebook,é a geração atual ,é a minha geração.Ora, irei postar esse texto em um blog,na internet,um texto provavelmente inexpressivo,mas facilmente exposto ao mundo,através da internet,e o filme é de certa forma sobre internet. Muitos reclamam que a internet esfria  as relações pessoais,muitos contra-argumentam listando pontos positivos(que são de fato muitos),e a visão do realizador do filme e do roteiro de Aaron Sorkins e Ben Mezrich é mostrar a importância da internet mas mostrar também  como ela pode intensificar os vícios humanos e de certa forma as vezes deixar a vida robótica.Principalmente pela forma que constrói  Mark Zuckerberg.
Não dá para saber se Mark é daquele jeito,afinal o roteiro do filme é inspirado no livro The Accidental  Billionaires de Mezrich,mas o Zuckerberg que se vê na tela é um cara frio,robótico,tão robótico que nas cenas em que ele está programando,parece quase  uma simbiose entre computador e homem.O pouco de humanidade retratada no início e meio do filme não é uma humanidade no sentido considerado positivo.É mostrado sentimentos de ganância,vontade de poder,talvez também um certo sentimento de revanchismo nerd,e principalmente arrogância.Nesse sentido Jesse Eisenberg  faz uma grande interpretação transmitindo com precisão o que se pretendia com o personagem;seus tiques,sua fala e raciocínio rápido,e principalmente seu olhar vazio são perfeitamente empregados para compor o criador do facebook.Eduardo Saverin (Andrew Garfield) no fim das contas é mostrado como um cara legal,único amigo de Mark,que leva uma bela de uma puxada de tapete e Sean Parker(Justin Timberlake),criador do Napster ,é mostrado como uma cara cheio de lábia,trapaceiro e aproveitador.Os irmãos Winklevoss(Armie Hammer) parecem ser injustiçados por Mark,mas o roteiro não dá essa certeza e nem é possível simpatizar com eles.
A cena final retrata um sentimento mais apreciável no personagem principal,quando ele parece arrependido do que tinha feito a sua ex-namorada,e consciente de que apesar do sucesso e dinheiro a tinha perdido para sempre,aí o filme acaba e sobe a música Baby You´re a Rich Man e o início de empatia com o personagem morre. Foi uma grande injustiça Fincher não ter levado o Oscar de Direção pelo menos.Se analisarmos intenção versus resultado,Fincher foi perfeito,Aronofsky é um tanto polêmico, e Hooper,bem Hooper nem tem história ainda no cinema e deram o Oscar a ele.
E para fechar o meu texto,volto ao primeiro parágrafo e explico porque acho Black Swan e Toy Story melhores.Darren Aronofsky imprime seu estilo  e embora o a estética de Black Swan não seja  nova para quem curte um cinema mais alternativo,a soma dessa estética mais o estilo de Aronofsky cria um filme mais polêmico e corajoso.Aronofsky assume o risco e quem não gostou,não apenas desgostou,mas odiou e considerou até a personagem principal inócua.Mas quem gostou,não apenas gostou,mas amou,ficou hipnotizado,siderado e não irá esquecer tão cedo de BS e de Nina(e no fim das contas mais gente amou do que odiou).Toy Story 3 é extremamente convencional,mas incrivelmente poderoso.Esse filme é genial e nos lembra que as vezes é mais difícil fazer  algo “simples” e marcante do que algo complexo.E é impressionante como TS3 fala com quase todos os tipos de público.Já em A Rede Social, a mesma sucintez e frieza que o fazem tão bom impedem de alçar vôos maiores e parte mais desavisada do público pode até achar que trata-se apenas de uma cinebiografia,sendo que o filme é muito mais do isso.Em suma,Black Swan e Toy Story para mim são obras-primas,A rede Social é “apenas” muito bom.