sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Esteta e a Linha Vermelha

Após uma ausência de 20 anos,o cultuado e misterioso Terrence Malick retornou com este Além da Linha Vermelha(The Red Thin Line).O norte-americano,formado em filosofia em Harvard,já havia adquirido prestígio por Badlands e Days of Heaven.Muita expectativa se tinha na época,e o filme foi recebido bem,tanto de crítica quanto de público,mas com alguma resposta negativa.Esta  certamente foi a parcela que detestou  A Árvore da Vida,pois nessa fita Malick,radicalizou bastante seu estilo e algumas coisas que são vistas já em Além da Vida Vermelha.

A longa duração,montagem não muito convencional(ficaria depois incrivelmente não-convencional em A Árvore da Vida),voiceovers trazendo o pensamento de personagens,câmera captando a natureza.Tudo isso em meio  a Segunda Guerra mundial.Irritou alguns,que tacharam  o filme de lento.Da minha parte achei genial,uma desconstrução mais frontal ao pensamento que  o cinema norte-americano geralmente tem da Segunda Guerra(Clint Eastwood viria mais tarde fazer o mesmo com belíssimo Cartas de Iwo  Jima ).Neste ponto de vista,é interessante comparar com O Resgate do soldado Ryan de Steven Spielberg,lançado no mesmo ano.

Evidentemente,que  muitos no cinema estadunidense(arriscaria a maioria) não  trata mais essa temática de forma ingênua.Não é :japoneses povo do mal e norte-americanos heróis salvadores.São feitas concessões.Mas essas concessões tem força apenas para esconder um maniqueísmo.É tão somente uma camuflagem.Esse é para mim o grande problema em O Resgate do soldado Ryan(só que na Europa),e o que o faz muito inferior ao Além da Linha Vermelha.Spielberg  ao adotar um tom mais sóbrio,fez algo genial como Munique.Extremamente emocionante de se pensar,que ele sendo judeu,ao tratar de um tema extremamente caro a seu povo,conseguiu um tom tão lúcido e sóbrio em Munique.Mas não conseguiu ,nem de perto,isso  em Ryan.

Malick,não,faz um filme anti-belicista,sem ser um clichê anti-belicista.Não importa a ele toda a problemática (extremamente complexa) que culminou na Segunda Guerra.O que importa são os homens comuns,que não são heróis,jogados ali num inferno que não compreendem.A natureza,ora cruel,ora bela,lhes é indiferente.Seria a natureza a visão que o Malick(de origem cristã-libanesa) tem de Deus?Seria Ele indiferente,à violência,ao mal??Interessante quando a câmera captura um filhote de pássaro aparentemente ferido tentando sobreviver em meio aquele caos.Interessante que o lamento dos japoneses aprisionados seja ininteligível a quem não fala a língua,mas seus olhares são universais.Igualmente interessante o povo aborígene,que é ignorado de seus direitos em  sua própria terra,mas também ignora toda aquela loucura.

Muito me impressionou três personagens que foram interpretados muito bem:Witt(Jim Caviezel),Welsh(Sean Pean) e col Gordon Tall(Nick Nolte).Witt  eu diria é o cara que pode ser chamado de herói,não de um jeito clássico,mas porque ele ,nas palavras de Welsh,tem o dom de enxergar a luz nas coisas.Welsh,é o oposto,mas isso não faz dele um má pessoa,pelo contrário.Ele apenas tem o olhar desencantado,seco,embora  ele ainda guarde um fiapo de esperança.E o col Gordon Tall.Algumas pessoas o acusam de insensível,cruel,que quer usar seus soldados para a glória tardia.Isso é em parte verdade,mas e seu pensamento que diz- Shut up in a tomb. Can't lift the lid. Playing a role I never conceive, e aquele olhar em sua última cena?

Bom,fecho meu texto com um voice-over do soldado japonês,que embora fora seja mais pessimista do que a visão geral do filme(ou pelo menos a visão geral que eu acho que Malick tinha ao fazer esse filme) me emocionou muito:
Are you righteous? Kind? Does your confidence lie in this? Are you loved by all? Know that I was, too. Do you imagine your suffering will be any less because you loved goodness and truth?