terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Melancolia

O que dizer de Melancolia,último filme de Lars von Trier?Como sempre o polemista dinamarquês dividiu crítica e público.De minha parte posso dizer que gostei,mas não amei;então eu diria que estou no grupo da exceção:os que não caíram nem cá nem lá da linha traçada por Von Trier.
A película foi dividida em duas partes:Justine e Claire.Na parte Justine,conhecemos os personagens,incluindo as irmãs que emprestam seus nomes às divisões do filme.Justine(Kirsten Dunst) sofre de depressão,isso é exposto através do ótimo trabalho da atriz,através de olhares,expressões,tudo com grande habilidade.Há também cenas mais diretas em que isso é reiterado.No entanto o ritmo da primeira parte  é  “arrastado”.Nada contra “arrastado”,desde que isso sirva para alguma coisa,criar uma atmosfera,etc.Mas,falando francamente,eu não consegui perceber um objetivo para esse andamento nesta parte.Todavia,gostei do “tom seco” através do qual a depressão de Justine é apresentada,isso é coerente com o filme como um todo e coerente com as idéias apresentadas pela filmografia de Lars von Trier.

O dinamarquês quer transmitir a visão de que Justine apenas tem a depressão,não tem um grande motivo,não existe uma Divindade Má que a infligiu a doença,e ela não é boa ou digna de pena devido a isso.Esta visão se completa com a segunda parte:Claire(Charlotte Gainsbourg).O diretor irá desconstruir a imagem sensata,prestativa da irmã de Justine(construída na primeira parte),irá promover mais uma vez um ataque a “sacralização” da ciência,como tinha feito em O Anticristo.E  irá sacudir as regras do jogo com a apresentação do Planeta Melancolia.
E é aí a grande força do filme.A segunda parte.Justine tem a depressão,porque tem,porque o acaso é terrível.Mas Claire com a aparição do Planeta Melancolia,começa a pressentir o pior,começa a ficar perturbada,sua sanidade vai se desvaindo e então será a sua vez de sentir a crueldade do acaso.John(Kiefer Sutherland),signo da ciência,cometerá um erro terrível, e ao ridicularizar ele,Lars von Trier ridiculariza o cientificismo.Estamos sós ,diz Justine.Ela,a depressiva,por ser depressiva,acaba entendendo melhor a crueldade do Universo,e portanto lida melhor com o evento final.Bem,o medo da morte,a destruição da esperança de uma pessoa comum(Claire) foi muito bem  desenvolvido.
Ou seja,na minha interpretação dessa obra, ela passa uma mensagem claramente niilista e aí está o grande problema,para além de questões técnicas/estéticas do filme.Não no niilismo em si(aliás eu tendo a preferir filmes mais pessimistas),o problema é que conhecendo o espírito um tanto marqueteiro e polêmico de Lars von Trier,fica difícil acreditar na sinceridade desse niilismo.Acaba,por vezes parecendo pessimismo de boutique,pessimismo para se ganhar prêmios ou valor artístico.Além do que,a discussão sobre solidão humana no Universo,sentido da existência,como nos relacionamos com a morte,Terrence Malick,faz com muito mais força, liberdade e sinceridade,em seu A Árvore da Vida,para comparar com um filme desse ano.

Em resumo,um bom filme,mas longe de ser grande.

Nenhum comentário:

Postar um comentário