quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Lobo,Elefante,Offspring


Dia deprê

A Hora do Lobo de Bergman e Elefantes de Gus Van Sant também não ajudam muito. Obras-Primas, mas realmente pesados. Cada um a seu jeito. Principalmente o último.

 

Quero dizer, a Hora do Lobo continua sendo um dos meus filmes preferidos de todos os tempos, mas seilá ,ao rever, me impressionou  de novo com momentos  poderosos, filme de fato instigante e misterioso e talvez justamente por isso eterno

 

Mas, esse Elefante , é tão pé no chão. A juventude. Me sinto muito velho já, mas bem dependendo do ponto de vista posso ser considerado um adulto jovem, e de certa forma, esse assunto de juventude ainda me fascina. Tem a violência, claro - e é impressionante como esse tipo de coisa continua ocorrendo, vide os massacres ocorridos em escolas estadunidenses nesse ano.

 

De volta a juventude. Tem  a garota nerd que trabalha na biblioteca, tem o menino rockeiro que parece ser amigo de todo mundo, tem o povo popular com sua filosofia de dividir o mundo em vencedores e perdedores. E tem também os moços assassinos, figuras ao mesmo tempo misteriosas e melancólicas. Curioso imaginar o que aconteceria com todos esses personagens, se sobrevivessem.

 

Na juventude, podemos brincar de ser rockeiros , de fotógrafos, de pianistas, de esportistas(de, ui, blogueiros).Mas passado esta áurea e controversa fase, acho que todos ou a maioria acaba no inferno de  The Oficce. Isso na melhor das hipóteses, é claro.

É,when we were young the future are so bright…

 

 

 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Esteta e a Linha Vermelha

Após uma ausência de 20 anos,o cultuado e misterioso Terrence Malick retornou com este Além da Linha Vermelha(The Red Thin Line).O norte-americano,formado em filosofia em Harvard,já havia adquirido prestígio por Badlands e Days of Heaven.Muita expectativa se tinha na época,e o filme foi recebido bem,tanto de crítica quanto de público,mas com alguma resposta negativa.Esta  certamente foi a parcela que detestou  A Árvore da Vida,pois nessa fita Malick,radicalizou bastante seu estilo e algumas coisas que são vistas já em Além da Vida Vermelha.

A longa duração,montagem não muito convencional(ficaria depois incrivelmente não-convencional em A Árvore da Vida),voiceovers trazendo o pensamento de personagens,câmera captando a natureza.Tudo isso em meio  a Segunda Guerra mundial.Irritou alguns,que tacharam  o filme de lento.Da minha parte achei genial,uma desconstrução mais frontal ao pensamento que  o cinema norte-americano geralmente tem da Segunda Guerra(Clint Eastwood viria mais tarde fazer o mesmo com belíssimo Cartas de Iwo  Jima ).Neste ponto de vista,é interessante comparar com O Resgate do soldado Ryan de Steven Spielberg,lançado no mesmo ano.

Evidentemente,que  muitos no cinema estadunidense(arriscaria a maioria) não  trata mais essa temática de forma ingênua.Não é :japoneses povo do mal e norte-americanos heróis salvadores.São feitas concessões.Mas essas concessões tem força apenas para esconder um maniqueísmo.É tão somente uma camuflagem.Esse é para mim o grande problema em O Resgate do soldado Ryan(só que na Europa),e o que o faz muito inferior ao Além da Linha Vermelha.Spielberg  ao adotar um tom mais sóbrio,fez algo genial como Munique.Extremamente emocionante de se pensar,que ele sendo judeu,ao tratar de um tema extremamente caro a seu povo,conseguiu um tom tão lúcido e sóbrio em Munique.Mas não conseguiu ,nem de perto,isso  em Ryan.

Malick,não,faz um filme anti-belicista,sem ser um clichê anti-belicista.Não importa a ele toda a problemática (extremamente complexa) que culminou na Segunda Guerra.O que importa são os homens comuns,que não são heróis,jogados ali num inferno que não compreendem.A natureza,ora cruel,ora bela,lhes é indiferente.Seria a natureza a visão que o Malick(de origem cristã-libanesa) tem de Deus?Seria Ele indiferente,à violência,ao mal??Interessante quando a câmera captura um filhote de pássaro aparentemente ferido tentando sobreviver em meio aquele caos.Interessante que o lamento dos japoneses aprisionados seja ininteligível a quem não fala a língua,mas seus olhares são universais.Igualmente interessante o povo aborígene,que é ignorado de seus direitos em  sua própria terra,mas também ignora toda aquela loucura.

Muito me impressionou três personagens que foram interpretados muito bem:Witt(Jim Caviezel),Welsh(Sean Pean) e col Gordon Tall(Nick Nolte).Witt  eu diria é o cara que pode ser chamado de herói,não de um jeito clássico,mas porque ele ,nas palavras de Welsh,tem o dom de enxergar a luz nas coisas.Welsh,é o oposto,mas isso não faz dele um má pessoa,pelo contrário.Ele apenas tem o olhar desencantado,seco,embora  ele ainda guarde um fiapo de esperança.E o col Gordon Tall.Algumas pessoas o acusam de insensível,cruel,que quer usar seus soldados para a glória tardia.Isso é em parte verdade,mas e seu pensamento que diz- Shut up in a tomb. Can't lift the lid. Playing a role I never conceive, e aquele olhar em sua última cena?

Bom,fecho meu texto com um voice-over do soldado japonês,que embora fora seja mais pessimista do que a visão geral do filme(ou pelo menos a visão geral que eu acho que Malick tinha ao fazer esse filme) me emocionou muito:
Are you righteous? Kind? Does your confidence lie in this? Are you loved by all? Know that I was, too. Do you imagine your suffering will be any less because you loved goodness and truth?


domingo, 29 de janeiro de 2012

O Sétimo Selo

Sobre uma obra-prima desse calibre do Mestre Bergman não tem muito o que dizer.Tudo ou quase tudo já foi dito,então o que posso falar??

Bem,tem alguns dos diálogos mais pesados,densos do Cinema.É fita pra se guardar por toda a vida e rever muitas vezes,antes que A indesejada das gentes chegue.Até porque é sobre isso que o filme trata.Bom vai aí uma palhinha:

Mia! I see them, Mia! I see them! Over there against the stormy sky. They are all there. The smith and Lisa, the knight, Raval, Jöns, and Skat. And the strict master Death bids them dance. He wants them to hold hands and to tread the dance in a long line. At the head goes the strict master with the scythe and hourglass. But the Fool brings up the rear with his lute. They move away from the dawn in a solemn dance away towards the dark lands while the rain cleanses their cheeks of the salt from their bitter tears.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Melancolia

O que dizer de Melancolia,último filme de Lars von Trier?Como sempre o polemista dinamarquês dividiu crítica e público.De minha parte posso dizer que gostei,mas não amei;então eu diria que estou no grupo da exceção:os que não caíram nem cá nem lá da linha traçada por Von Trier.
A película foi dividida em duas partes:Justine e Claire.Na parte Justine,conhecemos os personagens,incluindo as irmãs que emprestam seus nomes às divisões do filme.Justine(Kirsten Dunst) sofre de depressão,isso é exposto através do ótimo trabalho da atriz,através de olhares,expressões,tudo com grande habilidade.Há também cenas mais diretas em que isso é reiterado.No entanto o ritmo da primeira parte  é  “arrastado”.Nada contra “arrastado”,desde que isso sirva para alguma coisa,criar uma atmosfera,etc.Mas,falando francamente,eu não consegui perceber um objetivo para esse andamento nesta parte.Todavia,gostei do “tom seco” através do qual a depressão de Justine é apresentada,isso é coerente com o filme como um todo e coerente com as idéias apresentadas pela filmografia de Lars von Trier.

O dinamarquês quer transmitir a visão de que Justine apenas tem a depressão,não tem um grande motivo,não existe uma Divindade Má que a infligiu a doença,e ela não é boa ou digna de pena devido a isso.Esta visão se completa com a segunda parte:Claire(Charlotte Gainsbourg).O diretor irá desconstruir a imagem sensata,prestativa da irmã de Justine(construída na primeira parte),irá promover mais uma vez um ataque a “sacralização” da ciência,como tinha feito em O Anticristo.E  irá sacudir as regras do jogo com a apresentação do Planeta Melancolia.
E é aí a grande força do filme.A segunda parte.Justine tem a depressão,porque tem,porque o acaso é terrível.Mas Claire com a aparição do Planeta Melancolia,começa a pressentir o pior,começa a ficar perturbada,sua sanidade vai se desvaindo e então será a sua vez de sentir a crueldade do acaso.John(Kiefer Sutherland),signo da ciência,cometerá um erro terrível, e ao ridicularizar ele,Lars von Trier ridiculariza o cientificismo.Estamos sós ,diz Justine.Ela,a depressiva,por ser depressiva,acaba entendendo melhor a crueldade do Universo,e portanto lida melhor com o evento final.Bem,o medo da morte,a destruição da esperança de uma pessoa comum(Claire) foi muito bem  desenvolvido.
Ou seja,na minha interpretação dessa obra, ela passa uma mensagem claramente niilista e aí está o grande problema,para além de questões técnicas/estéticas do filme.Não no niilismo em si(aliás eu tendo a preferir filmes mais pessimistas),o problema é que conhecendo o espírito um tanto marqueteiro e polêmico de Lars von Trier,fica difícil acreditar na sinceridade desse niilismo.Acaba,por vezes parecendo pessimismo de boutique,pessimismo para se ganhar prêmios ou valor artístico.Além do que,a discussão sobre solidão humana no Universo,sentido da existência,como nos relacionamos com a morte,Terrence Malick,faz com muito mais força, liberdade e sinceridade,em seu A Árvore da Vida,para comparar com um filme desse ano.

Em resumo,um bom filme,mas longe de ser grande.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Requiem for a Dream

Requiem  for a Dream não é obra-prima,mas não é ruim.A qualidade mais evidente é a atuação,todos estão bem,e Ellen Burstyn,fantástica.O texto,não tem  força por si só,mas é realista e “comum”,porque a priori estão sendo retratadas pessoas comuns.
No seu segundo filme, já se percebe o talento de Aronofsky ,ele é um ótimo manipulador(não vejo problemas nisso desde que funcione,é claro),consegue criar incômodo,alguns planos interessantes e propositalmente toscos, e algumas cenas impressionantes.A trilha sonora é espetacular e há alguns momentos de brilhantismo no uso do som e música.

     No entanto,qual é a mensagem do filme?Usar drogas faz mal?Se a proposta do filme foi  essa,o fime é deficiente,porque a discussão é bem mais profunda e não há desenvolvimento dos personagens.Algumas questões seriam bem mais interessantes e poderiam ser inseridas: usuários de drogas que não se ferram apesar de serem minoria minúscula,a dicotomia glamour-decadência no uso das drogas nas artes(em que Aronofsky e seus atores estão inseridos),motivações para se usar drogas,angústia incessante,etc.Essas questões não precisavam ser discutidas ou levantadas se a proposta do filme fosse por exemplo passar uma mensagem claramente niilista do tipo: a vida é uma m.. mesmo,não tem sentido,então vamos mostrar o sofrimento alheio para causar sensações,incômodo,mal-estar,enfim o vazio.Aí o filme seria genial,de uma coerência extrema,poderia-se criticar a motivação,mas nunca a coerência proposta-execução.

Essa falta de clareza na proposta,portanto foi o grande defeito da película.As cenas acabam ficando “jogadas”,dispersas.Não há uma unidade.É um bom filme,mas existem filmes muito melhores sobre o assunto e definitivamente não achei  a obra-prima sobre drogas que alardearam.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Ciclo do Pavor

Realmente Mario Bava prioriza a imagem e a coisa sensorial em relação a  outros aspectos do filme.Isso implica que a história é bem simplezinha se for feita uma análise fria.

Mas o senso estético apuradíssimo de Bava cria uma atmosfera que eu diria que 99% dos diretores de suspense atuais não conseguem.Shyalaman parece criancinha perto dele(e olha que eu gosto muito do indiano).Tem que se notar o impressionante jogo de luz e sombra que o italiano faz trazendo gradativamente o filme do real para o onírico.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Stalker

1)A religião,ciência e a arte são três visões de mundo,a primeira e a terceira algumas vezes convergem,a segunda  e a  terceira dificilmente,a primeira e a segunda quase nunca.Uma viagem com as três interagindo,é portanto uma viagem metafísica.

2)O ritmo é extremamente lento,como deve ser o ritmo da reflexão de grandes questões,dando tempo de incuti-las,fazendo com  que estas se substancializem a partir das imagens.

3)Nietzsche introduziu o conceito de apolíneo e dionísico.Não há dúvidas de que o apolíneo é de suma importância para a humanidade,seja como força disciplinadora da violência dionísica,seja porque a razão é elegância por excelência.O dionísico,é violência criadora,é caos apaixonante.Tarkovsky  falando através do Escritor,parece preferir o Dionísico.Mas ambas as visões podem ser esgotadas, podem ser abaladas resultando num grande vazio,pois a armadura da racionalidade pode revelar grandes fissuras e viver pelas emoções é viver perigosamente.

4)Poucos filmes captaram beleza em grau tão profundo,beleza sem concessões,mesmo na feiúra.É uma beleza de doer os olhos.

5)O místico também tem problemas e sofre tanto quanto os outros,quanto maior a crença,maior a dúvida.Mas a grande ironia é que o ininteligível muitas vezes está debaixo dos nossos narizes,até porque se assim não o fosse,não seria ininteligível.

6)Para resumir talvez quem foi Andrei Tarkovsky ou mesmo Stalker  cito seu epitáfio:
Para o homem que viu o Anjo